Respostas a algumas questões atuais…

  • A origem das desigualdades – a lei da reincarnação
  • Limites à liberdade de expressão
  • O stress – como preveni-lo
  • A pena de morte: que eficácia?
  • A única moral da sexualidade: o amor
  • A droga, uma doença da alma
  • Do núcleo familiar à fraternidade universal
  • As ciladas do ocultismo
  • O fanatismo, negação da verdadeira religião
  • O que é um Mestre espiritual?
  • Educação e instrução
  • Progresso técnico e progresso moral
  • A paz: suprimir primeiro em si as causas da guerra
  • A pirâmide, mensagem de unidade
Os temas apresentados nestes extratos são desenvolvidos nas seguintes obras da Coleção Izvor:
202 – O homem à conquista do seu destino; 205 – A força sexual e o dragão alado; 206 – Uma filosofia universal; 206 – O que é um Mestre espiritual? 208 – Rumo ao Reino Paz; 225 – Harmonia e saúde; 226 – O livro da magia divina; 234 – A verdade, fruto da sabedoria e do amor; 235 – «Em espírito e em verdade.»

A origem das desigualdades – a lei da reincarnação...

Pela vida fora, encontramos seres saudáveis, belos, inteligentes, ricos, que beneficiam das melhores condições e são bem-sucedidos em tudo o que empreendem, e outros, pelo contrário, tão deserdados que, por mais que façam, só têm insucessos. Qual é a origem desta desigualdade de condições? Frequentemente, muitas pessoas ficam chocadas com o que parece ser uma verdadeira injustiça do destino. Se interrogardes os cientistas acerca da razão destas desigualdades, a maioria dir-vos-á que elas se devem ao acaso. E se interrogardes os sacerdotes, os pastores, estes responder-vos-ão que é a vontade de Deus. Por vezes, falar-vos-ão da predestinação e da graça, mas com isso só conseguem acrescentar mais uma injustiça. De qualquer modo, dizer «é a vontade de Deus» não difere muito de dizer «é obra do acaso».

Mas analisemos esta resposta dos religiosos. O Senhor dá tudo a uns e nada a outros; não se sabe porquê, mas é assim. E isto não é tudo, porque depois Ele fica furioso, ultrajado, quando aqueles a quem não deu boas qualidades nem boas condições são maus, estúpidos, e cometem crimes. E castiga-os. Como Ele é omnipotente, tinha o poder de fazer deles seres magníficos; mas não fez. Então, não só é por Sua culpa que eles cometem crimes, como ainda por cima Ele os castiga por causa desses crimes! Eis a razão por que muitas pessoas se sentem revoltadas.

Não, na realidade, há uma explicação para todas as aparentes injustiças da vida: é a lei da reincarnação. E a Igreja não compreendeu que, ao negar esta lei, apresentou o Senhor como um verdadeiro monstro.

A explicação é que, na origem, Deus deu-nos tudo, mas também nos deu a liberdade, e foi dessa liberdade que nós nos servimos para fazer experiências que nos saíram caras. Então, o Senhor, que é generoso e paciente, deixa-nos fazê-las, dizendo: «São meus filhos. Coitados, sofrerão e darão cabeçadas, mas não faz mal, porque eu continuarei a dar-lhes as minhas riquezas e o meu amor… Têm muitas incarnações à sua frente… Aprenderão e ganharão juízo.» Portanto, Ele deixou-nos livres, e agora tudo o que nos acontece de mau é da nossa responsabilidade, é porque o merecemos. E também merecemos tudo o que nos acontece de bom: é o resultado dos nossos esforços nas incarnações anteriores.

Por que é que a Igreja lançou toda a responsabilidade do nosso destino para cima do Senhor? Vós direis: «Não, ela não fez isso, apenas suprimiu a crença na reincarnação.» Na realidade, se refletirmos um pouco vai dar ao mesmo, o que é muito grave. A crença na reincarnação é também um dos fundamentos da moral. Enquanto não se esclarecer os humanos acerca desta lei da causa e efeito – segundo a qual o passado age sobre o futuro e uma existência sobre as seguintes – pode-se tentar “educá-los” fazendo-lhes todos os sermões possíveis, que isso de nada servirá, porque eles não se modificarão. E não só não se modificarão, como se revoltarão, por se sentirem vítimas da injustiça social; eles invejam e combatem todos os que consideram mais privilegiados do que eles, e assim só complicam ainda mais a situação. Mas aquele que sabe que as dificuldades e as provações que encontra nesta existência são consequência das suas transgressões no passado, não só aceita essas dificuldades como decide trabalhar para o bem, a fim de melhorar as suas futuras incarnações.

Limites à liberdade de expressão...

Quando um homem invade o terreno do vizinho, não lhe paga o que deve, o agride ou o injuria, todas as leis estão contra ele e ele é condenado. Mas se, por palavras escritas ou faladas, ou pelo seu exemplo, ele fizer perder a fé, a esperança e o amor a milhares de pessoas, se as incitar à devassidão e à violência, aí a justiça deixá-lo-á em paz. Todos são livres de exprimir os seus pensamentos e desejos. Mesmo os mais escabrosos, sem se preocuparem com as consequências que eles poderão ter no destino de certos seres mais fracos, mais influenciáveis; isso não tem qualquer importância para eles. Joias roubadas, vidros partidos, ah!, isso sim, é importante; mas almas e espíritos mergulhados na dúvida, na revolta e na confusão, já não é grave. Deste modo, os maiores criminosos passeiam em liberdade e, se forem artistas, escritores, cineastas, até lhes concedem prémios! A saúde espiritual de uma sociedade não conta – pode-se permitir que ela caia, se arruíne ou seja destruída; mas, no que se refere a bens físicos, materiais, tudo está previsto para os proteger: as polícias, os tribunais, as prisões…

Direis vós: «Como?! As pessoas devem poder exprimir livremente as suas ideias; quando, em certas épocas, se perseguia os pensadores, os filósofos e os artistas, a situação não era melhor.» Sim, é certo, eu sei; enquanto os humanos não tiverem critérios para discernir o que é realmente bom ou mau, é preferível que todos possam exprimir-se. Mas eu chamo a atenção de todos os criadores para a sua responsabilidade. Eu previno-os, dizendo: vós tendes a sorte de ser livres, mas a liberdade, em si, não é um fim, e é vosso dever refletir acerca dos efeitos que as vossas obras produzirão nos outros. Deveis saber que, mesmo que a justiça humana vos deixe em paz, a justiça divina considerar-vos-á responsáveis… Quando chegardes ao outro mundo e vos mostrarem que causastes este e aquele estrago noutros seres, de nada vos valerá protestardes dizendo que não fizestes todo aquele mal, porque vos responderão: «Não é verdade! Essas pessoas sofreram por vossa causa; vós introduzistes a confusão nas suas mentes, nos seus corações, impeliste-las a fazer experiências arriscadas, sem as prevenir dos perigos que corriam. Por isso, sois culpados e sereis punidos.» Deveis servir-vos dos vossos dons para esclarecer os seres, para despertar neles o amor, a confiança, o desejo de se aperfeiçoarem. Senão, ficai sabendo que não só sereis punidos, como, numa próxima encarnação, sereis privados desses dons.

O stress - como preveni-lo...

O que prejudica muito as pessoas hoje em dia é esta febre, esta agitação contínua em que elas vivem e que acaba por produzir estragos, tanto no seu organismo físico como no seu organismo psíquico. Ouve-se cada vez mais esta queixa: «Estou cansado!» Mas, apesar disso, as pessoas continuam a afadigar-se, a correr de um lado para o outro, sem parar um minuto. É bom querer-se estar ativo, mas, para se poder permanecer ativo sem fadiga, é preciso saber descontrair-se. E não apenas uma ou duas vezes por dia, isso não chega, mas dez, quinze, vinte vezes, um minuto de cada vez. Quando tiverdes um momento livre – e não importa onde, pode ser num sinal vermelho ou numa fila de espera –, em vez de deixardes o vosso pensamento vaguear ou de vos enervardes por vos fazerem perder tempo, aproveitai a ocasião para uns momentos de concentração, de acalmia, e assim recuperardes o equilíbrio; em seguida, retomareis a vossa atividade com forças renovadas.

O essencial é conseguirdes romper esse ritmo acelerado que faz de vós uma espécie de máquina propulsionada por um motor impossível de dominar. Portanto, parai várias vezes por dia, pelo menos durante um minuto, e pensai em alguém ou em algo que vos agrade, que vos traga a paz interior, que vos inspire, que vos dê coragem. Se também vos for possível, retirai-vos para uma sala sossegada, deitai-vos de barriga para baixo numa cama ou no chão, sobre o tapete, com os braços e as pernas estendidos, e deixai-vos ir como se flutuásseis num oceano de luz, sem mexer, sem pensar em nada a não ser na luz… Um minuto, apenas, e erguer-vos-eis revigorados.

Existe ainda outro exercício fácil e eficaz: aprender a comer. Uma vez que, em todo o caso, sois obrigados a parar e a sentar-vos, então, em vez de comerdes de qualquer maneira, com nervosismo e precipitação, considerai as refeições como ocasiões para fazer um exercício de repouso, de concentração e de harmonização de todas as vossas células.

Quando vos sentardes à mesa, começai por expulsar do espírito tudo o que possa impedir-vos de comer em paz e harmonia. E, se isso não vos for possível de imediato, esperai pelo momento em que tiverdes conseguido acalmar. Porque, se comerdes num estado de inquietação, de cólera ou de descontentamento, introduzir-se-ão em vós uma agitação febril e vibrações desordenadas que depois se transmitirão a tudo o que fizerdes. Ainda que tenteis dar uma impressão de calma, de autodomínio, desprender-se-ão de vós emanações de agitação, de tensão, e cometereis erros, chocareis com as pessoas ou as coisas, proferireis palavras desastrosas que rompem amizades e fecham portas… Ao passo que, se comerdes num estado de harmonia, resolvereis melhor os problemas que tiverdes de enfrentar, e, ainda que sejais obrigados a correr de um lado para o outro durante todo o dia, sentireis uma paz que a vossa atividade não poderá destruir. É começando pelo começo, pelas pequenas coisas, que se conseguirá ir muito longe.

A pena de morte: que eficácia?...

 Discute-se muito a respeito da pena de morte. Na rádio, na televisão, magistrados, psiquiatras e sociólogos apresentam estatísticas, observações, conclusões, e a opinião pública divide-se. Uns pensam que se deve punir com a morte os grandes criminosos, por exemplo, a fim de inspirar o medo; outros argumentam que o medo da morte jamais deteve um criminoso e que, sobretudo, nenhum homem tem o direito de decretar a morte de outro. São, pois, discussões intermináveis… Infelizmente, nem os especialistas estão esclarecidos acerca desta questão, porque os seus conhecimentos acerca da estrutura do universo e do ser humano não abrangem as regiões espirituais.

Imaginai que um criminoso foi executado: no plano físico, ficou-se livre dele, é verdade, mas o que não se sabe é que ele continuará a viver nos planos subtis e que, aí, o seu desejo de vingança e de destruição permanecerá intacto. Ao matar-se o seu corpo, não se matou o seu desejo, porque o desejo não é físico, não faz parte do plano físico. Portanto, uma vez morto, o criminoso irá para o plano astral e para o plano mental inferior, e aí reforçará o mal. A sua influência infiltrar-se-á na cabeça e no coração daqueles que, na terra, estão ligados a ele por afinidades criminosas, e, através deles, o criminoso esforçar-se-á por continuar a realizar os seus projetos maléficos. Terá até maiores possibilidades de ação do que antes da sua morte, porque já não estará limitado pelo corpo físico e, consequentemente, poderá agir através de numerosas pessoas. Portanto, quando se pensa que se resolve o problema da criminalidade preconizando a pena capital é porque se desconhece que o espírito do malfeitor continuará a agir do outro lado.

E ocorre o mesmo fenómeno, evidentemente, quando se assassina profetas, grandes Mestres: as suas ideias propagam-se ainda mais poderosamente… Aliás, é por isso que, quando são tentados a fazer desaparecer uma personalidade muito marcante que os incomoda – um chefe político ou religioso –, alguns dirigentes começam por refletir: «Atenção, não devemos matá-lo, porque desse modo será considerado um mártir; os seus partidários ficarão mais inflamados e a situação virar-se-á contra nós.» Eles compreenderam que matando um homem não suprimem a sua ideologia, porque outros a retomarão e ela ressurgirá ainda mais forte. Dir-me-eis vós: «Mas isso acontece porque os partidários ou adeptos cujo chefe foi morto ficam indignados e desejam ainda mais ardentemente continuar o seu trabalho.» Há algo de verdade nisso, sim, mas é uma interpretação superficial.

A realidade é que, no outro mundo, o espírito de um profeta, de um Iniciado, por exemplo, continua a alimentar as mesmas convicções, o mesmo desejo de trazer luz aos humanos e de os fazer evoluir. Então, ele continua o seu trabalho e tem mais possibilidades de propagar as suas ideias. Por isso, muitas vezes, a morte de alguns Iniciados não foi um obstáculo à propagação das suas ideias. Pensai na extraordinária expansão do cristianismo, após a morte de Jesus…

Não se deveria, pois, punir os criminosos com a pena de morte, por causa das consequências que daí resultam no plano invisível. Compete aos humanos organizar as condições de vida para que não haja mais malfeitores. Mas uma sociedade, enquanto não estiver assente em verdadeiras bases espirituais, é como um pântano, e os pântanos só podem fazer nascer mosquitos, isto é, criminosos. Nestas condições, querer fazer justiça é uma ilusão.

A única moral da sexualidade: o amor...

 Um instrutor, um guia espiritual, tem o dever de esclarecer os homens e as mulheres acerca da questão da sexualidade, sabendo bem que esta questão só pode ser verdadeiramente resolvida em função de cada pessoa. Querer impor regras idênticas para todos, em nome da moral, não é razoável, porque a disciplina que pode conduzir uns para o equilíbrio, para a força e para a verdadeira espiritualidade, pode, pelo contrário, levar outros à histeria, à neurose, à doença. A natureza das necessidades dos humanos não é igual para todos, e quem não levar em conta esta realidade arriscar-se-á ou a pregar no deserto ou a infligir neles tormentos inúteis.

É claro que isto não quer dizer que não se deve fazer esforços. Sim, cada um, ao seu nível, deve esforçar-se por dominar a força sexual, por viver o seu amor de uma maneira mais bela, mais nobre, mais espiritual, porque essa é a única regra moral verdadeira. Algumas pessoas não querem fazer qualquer esforço porque sabem que são fracas e pensam que voltarão a cair logo de seguida. Não é um bom raciocínio, porque o mais importante não é o sucesso, mas o facto de elas serem completamente sinceras no desejo de melhorarem as manifestações do seu amor. Cairão pelo caminho, certamente, mas serão ajudadas e erguer-se-ão de novo. Por mais quedas que se dê, o essencial é nunca se deixar de fazer esforços.

Mas, para se ser estimulado nesses esforços, é preciso ter um associado muito poderoso. E esse associado é o ideal com que se vive: um ideal de generosidade, de amor, de luz. O ideal é um ser espiritual, uma entidade viva que vos impele para o Alto. Assim, todas as forças que não utilizardes no plano físico servirão para alimentar, para reforçar este ideal, e contribuirão para a sua realização.

Conter a energia sexual apenas para obedecer a regras ditadas pela Igreja e pela sociedade é, muito simplesmente, recalcamento. E o recalcamento não pode ser uma solução para o problema da sexualidade; o recalcamento é a recusa em dar à força sexual o seu escoamento natural, sem se ter em mente um ideal bastante poderoso, capaz de fazer um trabalho nos planos superiores para canalizar e transformar esta força. A verdadeira renúncia não deve ser uma privação, mas uma transposição para outro plano. É a mesma atividade que continua, mas orientada para os planos superiores. Não se deve ficar privado, não se deve renunciar, mas somente deslocar-se, isto é, fazer no Alto o que se fazia em baixo: simbolicamente falando, em vez de se beber a água de um pântano, bebe-se a água de uma fonte pura e cristalina!

Portanto, o essencial é que vos esforceis sempre para melhorar as vossas manifestações em todos os domínios, em particular no da sexualidade, porque – deveis saber isso! – o ato do amor, em si, não é bom nem mau; ele será apenas o que fizerdes dele. Se não tiverdes trabalhado sobre vós para vos tornardes puros, nobres e esclarecidos, por este ato comunicareis ao vosso parceiro doenças, vícios e influências nocivas. O verdadeiro amor deve melhorar, em tudo, o ser que amais; deve elevá-lo, reforçá-lo, iluminá-lo. Só quando virdes que um ser se desenvolve graças ao vosso amor é que podereis considerar-vos felizes e agradecer ao Céu por terdes conseguido ajudá-lo e protegê-lo.

A droga, uma doença da alma...

 Quando se esforçam para demonstrar que não existe Deus, nem providência, nem Céu, nem qualquer esperança de vida depois da morte, os pensadores materialistas negam tudo o que dá sentido à existência humana: a realidade da alma e do espírito. Eles têm sustentado que, para o homem poder ser feliz, bastar-lhe-ia ter com que se alimentar, onde habitar, poder constituir família e estudar. Ora, na realidade, o que é que se passa? Acontece que, mesmo quando deu ao corpo, ao coração e ao intelecto tudo o que estes lhe pediam, o homem não se sente satisfeito. Verificamos isso todos os dias, em toda a parte. E por que não está ele satisfeito? Porque não cuidou de alimentar a alma e o espírito, que têm fome e sede e que reclamam! Por isso, o uso da droga – que se expande cada vez mais pelo mundo e principalmente entre os jovens – é uma advertência. É a alma que tenta fazer compreender as suas necessidades: ela sufoca e serve-se da droga para se libertar. Havia que libertar as pessoas do ópio que era a religião, não é verdade? Agora, aí estão a marijuana, a heroína, a cocaína… Será preferível?

A alma tem necessidade do espaço infinito e, quando se sente limitada, asfixiada, procura evadir-se por todos os meios. O álcool e as drogas fazem parte desses meios porque têm a propriedade de afastar a alma do corpo físico e, portanto, ao menos por um momento, dão-lhe uma ilusão de liberdade e de espaço. É por não saberem como satisfazer esta necessidade de evasão da sua alma que os jovens, coitados, se drogam. Mas isso não é a solução, porque a droga é um elemento químico que se dá ao corpo. Ora, a necessidade de evasão vem da alma, não do corpo. A droga é um indício de que a alma pretende viajar pelo espaço infinito, mas não é a droga que pode satisfazer a alma; e não só não pode satisfazer a alma, como ainda destrói o corpo. Por isso eu não aconselho ninguém a utilizá-la, qualquer que seja o pretexto. Só por meios espirituais se deve procurar a alegria, a dilatação, a liberdade, a plenitude.

Os verdadeiros adeptos da Ciência Iniciática não contam com nada que seja exterior; eles sabem que Deus colocou dentro deles todas as possibilidades, todas as riquezas, todas as substâncias de todos os laboratórios. E é aí que se deve procurá-las. Claro que isso exige muito tempo e requer esforços quotidianos, mas vale a pena. O alimento que absorverdes nas regiões sublimes da alma e do espírito saciar-vos-á durante dias e dias, porque no plano divino há elementos de uma tal riqueza que, se conseguirdes prová-los, por uma só vez que seja, a sensação de plenitude nunca vos abandonará. Nada poderá tirar-vos essa sensação de imensidão e de eternidade.

Do núcleo familiar à fraternidade universal...

 Cada família é uma célula deste imenso organismo que é o corpo social. Ora, como funcionam as células num organismo são? Trabalham em harmonia, para o bem do conjunto. Então, tudo é claro: se as sociedades, na sua maioria, estão doentes, é porque as famílias que as constituem não vivem todas em harmonia: cada uma tem os seus projetos, os seus interesses, que não estão em sintonia com os dos outros, e surgem as desordens, os confrontos. Cada família deverá, pois, tornar-se consciente de que pertence a conjuntos cada vez mais vastos, até à família planetária, e trabalhar para melhorar a saúde do organismo universal.

Sim, é ao nível da família que deve ocorrer esta tomada de consciência, porque um país é constituído por famílias e ele nunca poderá fazer ouvir uma voz harmoniosa no concerto das nações se for a expressão de reclamações bizarras e discordantes. Por isso, na educação das crianças, as famílias não deverão ter medo de abandonar algumas ideias que têm uma influência nociva na harmonia da sociedade. Porque são elas que ensinam as crianças a desejar, em primeiro lugar, o seu próprio sucesso, o seu próprio bem-estar, ainda que isso tenha de acontecer em detrimento dos outros. São as famílias que habituam as crianças, os seus filhos, a considerar como inferiores ou inimigos os que não são da mesma nacionalidade, da mesma religião ou da mesma raça. Não devem admirar-se, pois, se, mais tarde, essas crianças se manifestarem como adultos egoístas, limitados e intolerantes.

Não é vivendo curvadas egoisticamente sobre si próprias que as famílias poderão ser protegidas. Eis a prova disto: fazemos todos parte de uma coletividade e, se nesta coletividade eclodirem desordens, os nossos bens individuais e até as nossas vidas estarão ameaçados, por mais que façamos para os proteger. O destino das famílias está necessariamente ligado ao da coletividade, e para que os indivíduos estejam em segurança é necessário melhorar a vida coletiva.

Para se proteger verdadeiramente a família, a única solução é, pois, trabalhar pela fraternidade universal, é que os dirigentes de todos os países compreendam que é necessário formar uma instância mundial que tenha por objetivo velar pelo bem-estar de todos. Dir-me-eis: «É impossível, alguns países jamais aceitarão uma autoridade acima da sua.» Eu sei tudo o que possais dizer-me. Por agora tendes razão, é certo. Mas eu trabalho para o futuro. No futuro, esta unidade far-se-á, os acontecimentos conduzirão os humanos para esta visão das coisas, porque todos compreenderão que, na realidade, não se trata de uma submissão a outros homens, de abandonar a sua liberdade a uma autoridade exterior, estrangeira, mas de fazer triunfar um ideal comum: a paz e a abundância em toda a terra, o que passa, obrigatoriamente, pela ideia de fraternidade universal.

As ciladas do ocultismo...

 Durante séculos, a Igreja repetiu aos cristãos que o essencial era ter fé. Quando eles faziam perguntas, ela respondia que se tratava de mistérios que eles não deveriam procurar compreender, e perseguia todos os que não se contentavam com estas respostas. As pessoas deviam acreditar e seriam salvas. Pois bem, não é assim! Não basta acreditar; a religião não se limita à fé. Todas as religiões se fundamentam numa ciência, e, porque a Igreja não deu aos humanos esta ciência, a fim de alimentar o seu intelecto, a sua alma e o seu espírito, eles acabaram por perder a fé, porque tinham a impressão de estar a acreditar em coisas absurdas; ou, então, foram procurar fora dela o seu alimento espiritual. O que não é necessariamente melhor: durante séculos a Igreja combateu sem razão a tradição iniciática, mas o que está a acontecer agora – as espiritualidades do mundo inteiro e as ciências ocultas à disposição de todos – também tem os seus perigos.

Não se pense que, se as pessoas são atraídas para as ciências ocultas, é necessariamente porque têm aspirações místicas ou um verdadeiro impulso para a espiritualidade. De modo nenhum. Muitas pessoas embrenham-se no ocultismo – como se ele fosse uma espécie de feira onde se encontra uma variada gama de atrações, até as mais perigosas, como as drogas, a magia negra, uma sexualidade desenfreada – na esperança de, com estes meios, obterem dinheiro, poder, glória, prazeres. Os humanos não têm carência de apetites nem de cobiças; do que eles carecem é de inteligência, de paciência, de perseverança, para obterem o que desejam. Eles procuram sempre chegar mais depressa usando os meios mais fáceis, e agora são as ciências ocultas que eles vão usar!

É necessário pôr de parte todas essas práticas que permitem realizar ambições pessoais. Aliás, aquilo a que se chama ocultismo ainda está longe de ser a verdadeira ciência espiritual. As ciências ocultas são o bem e o mal misturados e há imensas pessoas que mergulharam nas regiões tenebrosas dessas ciências. O verdadeiro espiritualista é aquele que jamais coloca os seus conhecimentos e poderes ao serviço de aquisições pessoais. Ele tem por único ideal aperfeiçoar-se, trabalhar na luz e para a luz, a fim de se tornar um verdadeiro filho de Deus, um benfeitor da Humanidade.

 

O fanatismo, negação da verdadeira religião...

  Há pessoas que em toda a parte julgam ver o prestígio do Senhor atacado e se mobilizam para o defender. Como se o Senhor fosse tão fraco que tivesse necessidade de ser defendido! Pois bem, isso é o que elas julgam; temem pelo seu prestígio e querem defendê-l’O a todo o custo. Então, condenam, perseguem, queimam, massacram…. Por que não procuram elas, primeiro, saber a opinião do Senhor? Deviam perguntar-Lhe: «Senhor, estes seres são descrentes, hereges, blasfemos…. Permites que os castiguemos, que os queimemos, que lhes cortemos a cabeça?» Mas não; elas não perguntam. E não querem perguntar porque não são honestas: não desejam ouvir o que o Senhor, que é Amor, lhes responderia: «Não deveis ocupar-vos deles, isso não vos diz respeito. Se são realmente assim tão maus, aniquilar-se-ão a si próprios, sem ser necessário que lhes toqueis.» Elas não dão qualquer importância à opinião do Senhor e depois pegam em armas para, supostamente, O defender! Acreditais que é realmente o Senhor que elas defendem? Não, o que elas defendem é as suas “capelinhas”, o seu prestígio, a sua influência, o seu poder, e nada mais. Que hipocrisia! Quando se quer, verdadeiramente, defender o Senhor, deve-se manifestar, como Ele, paciência e amor!

O fanatismo, negação da verdadeira religião...

  

O que é um Mestre espiritual?...

 Dada a natureza do mundo espiritual, é preferível não penetrar nele do que penetrar sem guia, como algumas pessoas fazem, para sua infelicidade. Compraram livros onde vêm expostas técnicas de concentração, de meditação e de respiração, e ei-las lançadas em exercícios que acabam por transtorná-las física e psiquicamente. Sim! Como é possível tantas pessoas, que jamais teriam a ideia de escalar uma montanha sem guia, aventurarem-se sozinhas na exploração do mundo psíquico? Elas não viram que os perigos de se perderem, de caírem em precipícios ou de ficarem submersas nas avalanches são muito maiores nessas circunstâncias. É extraordinário! Elas pensam que podem desembaraçar-se muito bem sozinhas no mundo psíquico! Por isso há tantos desequilibrados entre os que se dizem espiritualistas.

Vós perguntareis: «Sim, mas como é que se reconhece um verdadeiro Mestre? Existem tantos impostores e charlatães prontos a aproveitar-se da credulidade dos humanos!» Um verdadeiro Mestre, no sentido espiritual do termo, é um ser que, em primeiro lugar, conhece as verdades essenciais; não o que este filósofo ou aquele pensador escreveram, mas o essencial, segundo a Inteligência Cósmica. Em segundo lugar, ele deve ter tido a vontade de dominar, submeter e controlar tudo em si próprio, e ter conseguido esse objetivo. Finalmente, ele só deve servir-se da ciência e do domínio que adquiriu para manifestar todas as qualidades e virtudes do amor desinteressado! É por esta qualidade – o desinteresse – que reconhecereis um verdadeiro Mestre. Cada Mestre vem à terra para manifestar mais especificamente uma qualidade: há, pois, Mestres da sabedoria, Mestres do amor, ou da força, ou da pureza… e compete a cada um de vós escolher aquele por quem sentis maior afinidade para o vosso desenvolvimento espiritual. Mas todos os verdadeiros grandes Mestres têm, obrigatoriamente, esta qualidade comum: o desinteresse. 

Educação e instrução...

Nas dificuldades, espera-se das pessoas instruídas e cultas reações comedidas, sensatas. Mas, na maior parte das vezes, não é nada disso que se vê: uma coisa de nada põe-nas em estados lastimáveis de cólera ou de depressão, e elas não têm a mínima capacidade, a mínima vontade, de remediar isso. Toda a sua instrução, toda a sua erudição, é incapaz de as ajudar. Então, mesmo que se ache desejável que os jovens estudem e obtenham diplomas, é-se obrigado a constatar que, mais importante do que a formação do intelecto, é a formação do caráter.

O essencial é viver, não ser professor, engenheiro ou economista. E para viver, para enfrentar todas as condições da existência, é importante reforçar o caráter. Senão, quando os jovens chegam à idade de enfrentar as dificuldades, não conseguem: viverem no mundo abstrato dos livros e são incapazes de suportar as realidades da vida.

Encontramos imensas pessoas que são instruídas mas estão sempre fracas, sempre vacilantes, sempre à mercê das circunstâncias! Leram uns calhamaços de que vão fazendo citações, e não passam disso. Mas de que serve pavonearem-se com as riquezas dos outros? O que devem mostrar é aquilo que elas próprias conseguiram realizar. Se forem incapazes disso, que deixem os seus conhecimentos livrescos em paz e vão, finalmente, exercitar-se no essencial: trabalhar sobre o seu caráter!

A instrução é uma coisa, a educação é outra. Os jovens não necessitam propriamente de professores  eruditos, mas de instrutores que lhes revelem o que é a vida e como devem vivê-la para             que as forças, as qualidades, os dons que nela estão depositados, possam de facto manifestar-se plenamente. Até lá, eles seguem por um caminho escorregadio, em que não serão alguns livros ou alguns diplomas que conseguirão mantê-los equilibrados, pois na vida o equilíbrio depende em primeiro lugar do caráter, não da instrução.

Enquanto não se puser a tónica na formação do caráter, mas somente na do intelecto, os conhecimentos ministrados nas escolas e nas universidades serão, para os jovens, meios para serem bem-sucedidos na vida, muitas vezes à custa dos outros, mas nunca para se transformarem e se tornarem benfeitores da humanidade. Se forem ambiciosos, medrosos, orgulhosos, maldosos, sensuais, avarentos, continuarão a sê-lo. Nós propomos uma outra Escola, onde os seres aprendem a conhecer a natureza humana, a modificar o seu próprio caráter, a transformar-se, a melhorar-se para bem do mundo inteiro.

Os estudos, por si mesmos, nunca tornaram as pessoas felizes, e muitas vezes até as transformaram em autênticos perigos públicos. Nas mãos daqueles que trabalharam sobre o seu caráter e que decidiram não os utilizar em seu próprio benefício, mas sim em benefício de todos, os conhecimentos são, pelo contrário, uma fonte de bênçãos.

Progresso técnico e progresso espiritual...

 Somos obrigados a constatar que o progresso técnico transformou imenso a vida dos humanos, trazendo em cada dia novos produtos, novos medicamentos, mais facilidades para as pessoas se deslocarem ou se comunicarem, equipamentos sempre mais aperfeiçoados nas escolas, nas casas, nos hospitais… Mas o progresso técnico tem limites e até apresenta perigos se não for controlado graças a uma visão superior das coisas. É, aliás, uma questão que preocupa cada vez mais as pessoas que refletem. Elas apercebem-se de que o progresso científico não só não traz consigo o progresso moral, mas também, de uma certa forma, faz o homem regredir.

Essa visão superior das coisas é-nos dada pela Ciência Iniciática. Que nos ensina ela? Que cada processo na natureza tem três aspetos, físico, psíquico e espiritual, e que, portanto, é impossível encontrar na nossa vida interior as mesmas manifestações e correspondências que no plano físico. Se os homens de ciência aceitassem debruçar-se um pouco sobre as leis que regem o universo para as aprofundarem, compreenderiam que, na realidade, todos os elementos, todos os objetos, todos os fenómenos físicos que eles estudam, lhes falam de um mundo mais vasto, mais rico. É por eles não terem compreendido como agem estas leis que o progresso científico não trouxe consigo um progresso moral.

Por exemplo: quando os físicos começaram a descobrir a realidade das ondas, deveriam ter ido mais longe: teriam entendido que não se trata de um fenómeno único, isolado, mas que ele existe também noutros planos, os do sentimento e do pensamento. E não se teriam limitado a indicar os componentes que permitem fabricar os postos de rádio, teria descoberto que o cérebro é um aparelho que emite e capta ondas e que havia, por isso, todo um trabalho a fazer neste domínio. Apesar de a telepatia ser hoje reconhecida por alguns, eles ainda não retiraram dela todas as consequências no que diz respeito à educação e ao domínio do pensamento. E não é tudo: quando eles descobriram que as ondas não conhecem fronteiras, deveriam ter trabalhado imediatamente para abolir todas as fronteiras, a fim de estarem em sintonia com a sua descoberta. É verdade que neste domínio houve alguns progressos, mas avança-se muito lentamente!

Os cientistas fazem, pois, descobertas, mas não compreendem toda a dimensão dessas descobertas. O telefone, a fotografia, o gira-discos, o radar, o laser, etc., todas as descobertas científicas e técnicas, para serem completas, devem ser transpostas para o plano psíquico e espiritual.

Quando souberem ver para além do aspeto material da realidade, os cientistas possuirão a verda­deira ciência. E é absolutamente desejável que consi­gam isso rapidamente, pois a verdadeira ciência não só traz o conhecimento e a compreensão, como é uma fonte de equilíbrio, de liberdade, de paz interior. Ao passo que, por ora, a ciência atual traz toda a espécie de inovações que facilitam a vida, é certo, não se pode negar isso, mas, por causa da sua forma limitada de encarar as coisas, os humanos estão mais obstruídos, mais prostrados e, por vezes, mais doen­tes, mais infelizes e mais maldosos.

A ciência contemporânea está ainda fora, ao lado, da verdadeira ciência. Os investigadores traba­lham sem saberem que têm realmente entre as mãos as bases da verdadeira ciência. Muitos admiram-se com o facto de o progresso científico não modificar o mundo e questionam-se sobre o que podem fazer para contribuir para o progresso moral da humanidade. Pois bem, a resposta é a seguinte: devem traba­lhar para descobrir, por detrás das leis do mundo físico, leis análogas no mundo moral. 

 

A paz: suprimir primeiro em si as causas de guerra...

  Imensas pessoas dizem que trabalham para a paz no mundo! Por enquanto, esse trabalho consiste sobretudo em se acusarem umas às outras de serem causadores de guerra. Para uns, os culpados são os ricos; para os outros, são os intelectuais, ou os homens polí­ticos, ou os cientistas. Os crentes acusam os descren­tes de conduzirem a humanidade para a sua perda, os descrentes acusam os crentes de fanatismo, e por aí adiante… Observai-vos e vereis que é sempre suprimindo estas ou aquelas pessoas que os humanos julgam poder instalar a paz. E é nisso que se enga­nam: mesmo que se suprimissem os exércitos e os canhões, no dia seguinte as pessoas teriam inventado outros meios para se combaterem. A paz, na rea­lidade, é um estado interior e nunca se conseguirá obtê-lo suprimindo alguém ou alguma coisa no exte­rior. É dentro de nós próprios, em primeiro lugar, que é preciso suprimir as causas da guerra.

A partir do momento em que alimenta em si certos estados interiores, como o descontentamento, a revolta, a inveja, o desejo de possuir sempre mais, o homem não pode estar em paz, faça o que fizer. Pelos seus pensamentos e pelos seus sentimentos, ele não só introduz no seu íntimo os germes da desordem e da guerra, como semeia esses germes por toda a parte à sua volta.

Imaginai alguém que come e bebe o que calha: essa pessoa introduz no seu organismo certos ele­mentos nocivos que a tornarão doente. E que paz se pode ter quando se perturba o funcionamento do seu organismo, do estômago, do fígado, dos rins, dos intestinos?… Pois bem, no plano psíquico existe a mesma lei: não se deve comer o que calha, senão fica-se doente.

A paz é, pois, consequência de um saber profundo sobre a natureza dos elementos de que o homem se alimenta em todos os planos. Ela só pode instalar-se naqueles que decidiram manifestar-se com bondade, generosidade, desapego. Só esses seres podem espalhar a paz ao seu redor.

Com o pretexto de que criam associações ou militam em movimentos pacifistas, muitas pessoas imaginam que trabalham para a paz. Não, porque a sua vida não é uma vida para a paz: elas nunca pen­saram que primeiro são todas as células do seu corpo, todas as partículas do seu ser físico e psíquico que devem viver segundo as leis da paz e da harmonia, a fim de emanarem essa paz para a qual elas preten­dem trabalhar. Enquanto falam da paz e escrevem acerca da paz, continuam a alimentar a guerra em si e à sua volta, pois estão incessantemente a lutar contra uma coisa ou outra… A paz, o homem tem primeiro de instalá-la em si mesmo, nos pensamen­tos, nos sentimentos e nos atos da sua vida quoti­diana. Só então é que ele trabalha verdadeira­mente para a paz. 

  

A pirâmide, mensagem de unidade...

  Somos obrigados a constatar que cada ser vê as pessoas e as coisas em função de si próprio, isto é, em função da sua raça, do seu país, da sua religião, do seu sexo, da sua situação social, da sua educação, da sua profissão, da sua idade, etc., e sobretudo em função do seu grau de evolução espiritual. É normal, tão normal que toda a gente vos dirá que não pode ser de outra maneira. Simplesmente, como cada um está convencido de que a sua verdade particular é a única verdade, nenhuma compreensão se torna possível e só se vê mal-entendidos e confron­tos em todos os domínios.

Para poderem estar em sintonia, para compre­enderem e apreciarem os mesmos valores, os huma­nos devem retomar interiormente o caminho ascen­dente que os conduzirá para o cume, para as regiões luminosas do espírito. Sim, se em vez de permanece­rem nas regiões inferiores em disputas sem fim, se eles se decidissem a aceitar o ponto de vista do cume todos os problemas políticos, económicos, sociais, religiosos, seriam resolvidos em vinte e quatro horas. Eis o que é absolutamente necessário meter na cabeça: para resolver verdadeiramente os problemas, não se deve permanecer no nível em que eles se colo­cam, mas fazer um trabalho interior que permite vê-los mais de cima. Enquanto os humanos se limitarem a patinhar e discutir nas regiões inferiores, não só não encontrarão soluções, como os problemas se compli­carão cada vez mais, e em primeiro lugar para eles próprios.

Meditemos na lição da pirâmide. Os grandes Iniciados do Egito escolheram para os seus monu­mentos a forma da pirâmide, com as suas arestas que se elevam e se aproximam até se unirem no topo, para darem aos humanos uma lição de unidade. A pirâmide é um símbolo da hierarquização que existe no universo. A base da pirâmide representa a multiplicidade dos fenómenos e o seu topo representa o mundo dos princípios: a unidade.

Em baixo, ao nível dos fenómenos, está-se na dispersão, na confusão, porque não se pode ver como os seres e as coisas se situam nem as relações que eles mantêm uns com os outros. Para se ver claro neste domínio, é preciso subir. E o que significa subir? Tomar o caminho da unidade. É a unidade que or­dena e dirige a multiplicidade. Na unidade, está-se no coração das coisas e compreende-se como se tecem todos os fios da vida.

Seja em que domínio for, este símbolo ensina-nos a passar do plano inferior da multiplicidade e da dispersão ao plano superior da unidade. É esta visão cada vez mais nítida que nos permite apreender a verdadeira realidade das coisas e encontrar as melho­res soluções.

Por que é que os políticos e os economistas não conseguem resolver os problemas internacionais? Porque cada um trata apenas de resolver os proble­mas do seu país. Nestas condições, eles não conse­guem compreender-se, porque se posicionam dema­siado baixo, no domínio dos factos. E isto também é verdadeiro para todos os humanos, na sua vida quotidiana. Eles não poderão entender-se nem fazer a unidade se, com a sua compreensão, com as suas atitudes, não tentarem alcançar o ponto de vista mais elevado: o topo da pirâmide. Eles devem esforçar-se por subir até aí para encontrarem as leis que regem os factos, e ainda mais acima, para encontrarem os princípios que governam estas leis, até atingirem o Princípio supremo que abarca tudo. Chegados aí, todos são obrigados a ter a mesma visão do seu inte­resse comum.